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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Carro novo produzido no Brasil já chega defasado

No cenário global da indústria automotiva, o Brasil é o que se pode chamar de ilha, com muitos veículos ultrapassados ou, pior, falsamente atualizados. Alguns têm verniz moderno, mas baixo conteúdo tecnológico. São os chamados "carros projetados para países emergentes", um eufemismo para produtos de segunda linha, que consumidores de nações desenvolvidas deixaram de comprar há mais de 20 anos.
A engenharia automotiva brasileira se orgulha de ser a mais experiente e competente entre as nações industriais emergentes. Contudo, existe nessa visão certo ufanismo que joga uma cortina de fumaça sobre o atraso tecnológico desse importante setor industrial no Brasil, que aqui produz os piores veículos mais caros do mundo, com projetos defasados ou carros que existem só aqui e nas vizinhanças -- e por falta de qualidade não podem ser exportados aos países desenvolvidos.
Os produtos globais são também os mais caros entre os carros fabricados no Brasil: todos custam acima de R$ 65 mil e ocupam faixa limitada de mercado, com vendas abaixo de 5 mil unidades/mês. É o caso, por exemplo, do Toyota Corolla feito em Indaiatuba (SP), o mais bem vendido automóvel global feito no país, que tem motor importado do Japão e ocupa a 13ª posição no ranking nacional de emplacamentos. Depois dele, na 15ª posição, está o Honda Civic montado em Sumaré (SP), onde a fábrica quase parou no ano passado por falta de peças de fornecedores japoneses afetados pelo terremoto.
Como o mercado brasileiro está protegido das importações por altos impostos e a legislação brasileira de emissões e segurança não exige grandes avanços, o que chega de novo, para ser feito em fábricas nacionais são projetos globais de segunda linha, que parecem condenar o cliente brasileiro a consumir carros inferiores quando se compara produtos similares vendidos aqui e no mundo desenvolvido.
Se nada for feito, o Brasil automotivo caminha para uma perigosa "desglobalização" tecnológica. Em tempos de debates sobre uma nova política industrial para o setor, na qual o governo garante que exigirá maior evolução tecnológica da indústria em troca de benefícios fiscais, seria o caso de perguntar que tipo de desenvolvimento queremos, global ou subglobal. Sem aperto na legislação de emissões e segurança, em conjunto com significativa desoneração fiscal, continuaremos a projetar modernas carroças subdesenvolvidas.

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